REFLEXO OU TEMPO DE REAÇÃO?

Quando observamos um atleta interceptando um passe ou um goleiro defendendo um lance rápido, dizemos: Nossa! Que belo reflexo ele teve! Será que estamos certos ao usarmos o termo “reflexo” como resposta?

Na verdade não! O correto é dizer que o atleta teve um bom tempo de reação.

         

        O reflexo é uma ação rápida e involuntária, automática, onde a pessoa realiza o movimento, após receber um estímulo, sem pensar. Podemos citar como exemplo o reflexo patelar: quando um médico bate com um martelinho no joelho do paciente, a perna estica, e essa ação é involuntária, o paciente não pensa que deve esticar a perna, a ação simplesmente acontece. Ou quando encostamos as mãos em algum lugar muito quente, sem pensar puxamos rapidamente a mão. 

        O ato reflexivo se origina de um estimulo recebido por receptores no nosso corpo (neurônios). Esses receptores são responsáveis por dizer ao nosso cérebro que nosso organismo precisa reagir ao estimulo gerado (que geralmente é uma ação defensiva do nosso corpo). Assim, nosso organismo, a fim de preservar a integridade física, assume o controle da situação, sem que possamos decidir o que fazer. Somos apenas um agente passivo da situação, nos tornando meros expectadores do evento em questão. 

        Outro tipo de reflexo, pouco comentado é o reflexo condicionado. O fisiologista Pavlov realizou uma experiência com cachorros. A experiência consistia em deixar os animais por algumas horas sem comida, antes de dar comida aos cães o fisiologista tocava uma campainha, ele fez isso repetidas vezes, logo os cachorros ao ouvirem a campainha produziam saliva na boca, pois sabiam que iriam comer, ou seja, eles eram condicionados para isso. Quantas vezes você ao ver uma imagem de comida, ou ao sentir o cheiro de um alimento ficou com água na boca? Na verdade o que você teve foi um reflexo condicionado. 

         Já o tempo de reação é o intervalo de tempo entre o início de um estimulo até o momento da reação ao evento inicial. O atleta pode ser solicitado a responder a vários tipos de estímulos: 

• Visual (um chute para o gol, um passe, um deslocamento do adversário, etc.);

• Auditivo (tiro de largada, o apito, gizo de bolas nos esportes paralímpicos, etc.); e

• Tátil (a troca de bastão no revezamento, contato em uma partida de rugby, etc.). 

   De acordo com Schmidt & Wrisberg (2001), o tempo de reação pode ser classificado em:

• Tempo de reação simples – é o intervalo de tempo mais curto do início do estimulo ao início da resposta. Por exemplo, um goleiro de futebol identificou que o atacante chutou a bola entre as suas pernas, mas não reagiu a tempo para defender o lance. Nesse caso temos um evento simples o chute entre as pernas e uma resposta simples, fechar as pernas para não tomar o “frango”. 

• Tempo de reação de escolha – ocorre quando se inicia um ou vários estímulos e se tem várias reações possíveis. Ainda usando como exemplo o goleiro de futebol, agora o goleiro não sabe em que lugar o atacante irá chutar a bola. Nesse caso ele terá que responder ao primeiro estimulo: quando será realizado o chute, depois o segundo estimulo: em que local do gol será realizado o chute, depois terá que reagir a tempo de defender o gol, depois terá que decidir se será possível agarrar a bola, ou terá que espalmar, e por fim se tiver que espalmar qual o melhor local para espalmar a bola, a fim de não dar rebote. 

• Tempo de reação de discriminação – é o tempo que a pessoa demora em reagir ao inicio de um dos vários estímulos possíveis até o inicio de uma das respostas possíveis.

        O tempo de reação varia de acordo com o tipo de estímulo, visuais, auditivos ou táteis. O tempo de reação mais comum é o visual, de acordo com Zaciorskij (1977), Hollmann & Hettinger (1980) apud Weineck (2000) esse tempo é em média é de 0,15 - 0,2 s (ou seja, demoramos menos de um segundo para responder a um estímulo). 

        Em atletas de alto nível esse tempo é ainda menor. O mais importante para os atletas é que a velocidade de reação é algo que pode ser melhorado através de repetição (treinos). Segundo Weineck (2000) a velocidade de reação complexa pode ser melhorada em 30 a 40%. Também segundo Weineck (2000) somente em condições de descanso é possível atingir velocidades de reação e ação máximas, por isso é tão importante para atletas de alto rendimento investir em descanso antes das partidas e treinamentos. 

        Sendo assim, o tempo de reação é fundamental para a performance do atleta, quanto mais rápido ele responder aos estímulos e processar essas informações para tomar a decisão correta, maior será sua eficiência .

Fonte: www.atletesplus.com