terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O EXEMPLO DE VALDÉS


O que a vida ensinou a Valdés...

A vida dá muitas voltas...

Foi o que aconteceu a um goleiro que já venceu literalmente tudo o que há para vencer no futebol, Victor Valdés.

Aos 34 anos de idade, Valdés é um homem feliz por poder fazer o que mais ama no Standard de Liège...

Não quer saber de "Barças", nem de "Manchesters", quer é jogar futebol e estar num vestiário!!

Isso já o faz feliz. já é uma alegria, já é uma conquista.

De ganhar tudo, a uma lesão grave no joelho...

Da lesão grave no joelho, ao esquecimento!

Valdés aceitou com "humildade" as "voltas da vida".

Porque ele apenas quer jogar futebol:

"Treinei quatro meses completamente sozinho no Manchester United.

Tinha apenas a companhia de um treinador de goleiros do Manchester, Alan Fettis.

A situação era tão má, que um dia tive um pensamento assustador!

E perguntei ao Alan:

"E se bater com a cabeça numa das traves e perco a consciência?

E se mordo ou me engasgo com a língua?!",

E ele respondeu-me:

"Não te preocupes, estou com o telefone no bolso. Se te acontecer algo, telefono pra pedir ajuda.".

Eu olhei para aqueles hectares todos, onde fica o centro de treinamento, e disse-lhe:

"Alan, sinto-me muito sozinho.".

Era tão mau quanto isto...

Tudo começou no final da última temporada.

Sofri um gol num dos três jogos que disputei com os reservas.

Passado uns dias, um dos adjuntos de Van Gaal, Franzs Hoek, obrigou-me a ver o vídeo do gol.

Reconheci, que estar jogando com rapazes de 16 anos, era capaz de não ser muito motivador para mim.

Mas o meu trabalho nos treinos da equipe principal, estava sendo impecável.

Como estava trabalhando bem, ele (Van Gaal) chamou-me para o jogo com o Hull.

E estreei-me na Premier League.

Fomos de férias, e quando terminaram as férias, apresentei-me ao trabalho.

Lesionei-me num gémeo.

Fomos para os Estados Unidos e como tinha tido problemas no gémeo, não estava na minha melhor forma.

Acabando a digressão nos Estados Unidos, Van Gaal chamou-me para falar com ele:

"É melhor que fiques a treinar no Manchester e trates desses problemas físicos.".

Eu aceitei, mas recordei-o da minha lesão grave no joelho:

"Mister, vão pensar que estou mal do joelho. E não é verdade.

O que o senhor disser publicamente, pode prejudicar-me muito.".

Ele foi frio e cortante:

"Vou dizer o que achar mais conveniente.".

Ainda estávamos na Califórnia, quando um jornalista perguntou a Van Gaal pela minha situação.

E ele respondeu:

"O Valdés não aceitou a filosofia do clube.".

Fique de boca aberta...

Voltamos a Manchester e Van Gaal voltou a falar comigo.

Agora, dizia-me que devia começar a procurar um clube...

Eu estava num beco sem saída.

Um dia chego ao vestiário e tinha desaparecido do meu cacifo, o meu nome, as minhas chuteiras e as minhas luvas.

Nem o meu shampoo estava lá...

Perguntei a um funcionário, o Mike, o que tinha acontecido.

Sem se atrever a olhar-me nos olhos, o Mike disse:

"Deram-nos esta ordem e levamos tudo para o balneário das reservas.".

Nunca mais trabalhei com a equipe principal...

Fiquei sozinho, completamente abandonado.

Senti-me mais sozinho, do que quando tive de recuperar na Alemanha do meu problema no joelho.

Em que pensei?

Que se tivesse de treinar-me sozinho para voltar a jogar, iria treinar-me sozinho.

E foi isso que fiz.

De segunda-feira a sexta-feira, não via ninguém.

Foi assim, durante quatro meses.

Apliquei a minha velha teoria, uma teoria que sigo desde criança: o desejo, é igual ao objetivo.

E apliquei-me nos treinos, mesmo que não estivesse lá mais nenhum jogador...

E depois de tanto tempo, apareceu o convite do Standard de Liège.

Fiquei feliz, mas isso parece surpreender toda a gente...

No outro dia, um jogador grego que chegou recentemente ao Standard, o Maniatis, perguntou-me:

"Victor, mas o que é que faz aqui um campeão do mundo?!".

E eu respondi-lhe em inglês:

"Olha amigo, era isto, ou em junho ia para casa e o futebol tinha terminado para mim.".

Era a única, e a última oportunidade da minha vida esportiva.

Assim, aqui estou!".

Ele ficou com um ar de quem não compreendia, mas eu insisti...

"Eu treinava completamente sozinho todos os dias!!

Sabes o que é isso?

Aqui, eu estou feliz, só por estar dentro de um vestiário, por fazer parte de um balneário.

Para mim, esta é a melhor equipa do mundo!".

Não tenho saudades dos charcos de água fria dos gramados de Manchester.

E não guardo rancor a Van Gaal.

Ele deu-me a oportunidade de estrear-me no Barça, ele contratou-me quando não tinha equipe, e deu-me a possibilidade de recuperar da lesão no joelho.

Apesar de tudo, tenho de lhe estar agradecido. Se não fosse por ele, não estaria aqui.

Em apenas dois dias, assinei pelo Standard.

O clube paga os prêmios de jogo e os objetivos, o apartamento onde estou a viver e o Peugeot que conduzo.

Os salários são pagos pelo United, que antes do dia 30 de maio tem a possibilidade de renovar automaticamente o meu contrato por mais um ano.

Eu voltei a começar do zero, mas tenho a ilusão de uma criança.

Quero jogar, até aos 40 anos de idade.

A vida é uma lição e tens de ser humilde.

Desde que cheguei, tratam-me como uma estrela aqui.

Mas a vida ensinou-me uma coisa...

Já lhes disse várias vezes:

"No futebol, não existem estrelas.".

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